domingo, 20 de maio de 2007

Soneto anticolonialista - Joaquim Pessoa

Ah Diogo! Ah Cão! Em que de Zaire
pretendes colocar o teu padrão?
El-rei morreu. As naus de clarear
são agora de um povo nosso irmão.

Dispensámos as balas e os escravos
e mais para diante navegámos.
Negreiros não. Dissemos sim aos cravos.
O mar não dói. E a terra não tem amos.

Ah Diogo! Ah Cão! Que resultado
esperavas deste povo a ver morrer
o seu corpo na farda de soldado?

Esta Nau do futuro há-de vencer!
Mas há cães que só ladram o passado
porque o presente é duro de roer!


Joaquim Pessoa




Manuela Fonseca e outros (org.)
Lá longe, a paz
Porto, Edições Afrontamento, 2001