domingo, 20 de maio de 2007

A sombra do quadrante - Eugénio de Castro

Murmúrio de água na clepsidra gotejante,
Lentas gotas de som no relógio da torre,
Fio de areia na ampulheta vigilante,
Leve sombra azulando a pedra do quadrante,
Assim se escoa a hora, assim se vive e morre.

Homem, que fazes tu? Para quê tanta lida
Tão doidas ambições, tanto ódio, tanta ameaça?
Procuremos somente a Beleza, que a vida
É um punhado infantil de areia ressequida,
Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa.


Eugénio de Castro




Eugénio de Andrade (org.)
Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa
Porto, Campo de Letras, 1999