onde as ruínas se fixaram
para sempre nos teus olhos
Chove em Ypres
onde aqueles que caíram
são há muito as sombras dos vivos
Chove em Ypres
onde as pedras verticais
são a branca geometria da morte
Chove em Ypres
e os olhos se perdem
na planície arrumada como um verso
onde as raízes das papoilas
em balas e ossos se enovelam
e onde o silo da memória
guarda o cheiro a gás e a lama
e a carne apodrecida
João Pedro Mésseder
Homenagem do poeta a Ypres, uma cidade flamenga onde morreram milhares de pessoas, na Primeira Grande Guerra.
Manuela Fonseca e outros (org.)
Lá longe, a paz
Porto, Edições Afrontamento, 2001