domingo, 20 de maio de 2007

Olhar o inimigo de frente - conto americano


Conto americano


Eis uma técnica de paz que resultava com uma mãe em Indiana. A filha conta:


Tenho duas irmãs mais novas. Se alguma de nós se envolvesse numa luta enquanto brincávamos, a minha mãe resolvia o conflito da seguinte forma:


Ordenava que as duas adversárias se sentassem frente a frente em duas cadeiras, separadas apenas por alguns centímetros. “Têm de olhar uma para a outra durante cinco minutos”, ordenava a minha mãe, e certificava-se de que o fazíamos ficando junto de nós. Às vezes, dizia “Jennifer, olha para a tua irmã”, naquele tom de voz de uma mãe que não admite desafios. Com a expressão cerrada, lançávamos um olhar gelado aos braços cruzados da outra. “Olha para a cara dela. Olha-a nos olhos”, ordenava a minha mãe. Obedecíamos-lhe a contra–gosto, tentando manter os nossos olhares carrancudos, tentando não rir da expressão hilariante que se formara na cara da outra. É claro que estes esforços resultavam em trejeitos ainda mais hilariantes, o que tornava impossível não nos rirmos uma da outra. De repente, sem nos darmos conta, já estávamos a rir em voz alta, de nós mesmas e da outra. A nossa juíza severa sorria e tentava ela mesma não desatar a rir. “Podem ir agora”, dizia, da forma mais solene que podia, e ia para a cozinha, rir sozinha, enquanto nós voltávamos à brincadeira.


Nunca tivemos de ficar sentadas durante os cinco minutos por inteiro.


Acredito que esta abordagem não resulta com todos os conflitos. Lembro‑me de que havia ocasiões em que éramos punidas, sobretudo se tínhamos magoado uma irmã fisicamente. Mas lembro-me de me torcer naquela cadeira, de tentar continuar zangada e de ver que não podia fazê-lo, se de facto olhasse de frente a pessoa com quem estava zangada.



Margaret Read MacDonald
Peace Tales
Arkansas, August House Publishers, Inc., 2005